
R$ 150.000 por ano para ser babá de adulto.
Essa é a realidade brutal do mercado de Scrum Masters no Brasil em 2024. Enquanto desenvolvedores se matam codificando por R$ 120.000, tem uma galera de polo Ralph Lauren e Jordan no pé faturando quase o dobro para ficar perguntando “qual foi seu impedimento ontem?” em reuniões de 15 minutos que duram 45.
Bem-vindos ao mundo do capataz moderno. Só que agora ele usa tênis de R$ 1.500 e carrega um MacBook.
O Novo Feitor da Fazenda Digital
Vamos ser diretos: Scrum Master é o cargo mais bem pago para fazer absolutamente nada de produtivo na indústria de tecnologia. É o único trabalho onde você pode ganhar R$ 12.500 por mês para ser profissionalmente inconveniente.
Segundo o Scrum Master Salary Report 2024, a média salarial global é de US$ 87.800 (cerca de R$ 440.000 anuais). No Brasil, os dados mostram uma faixa entre R$ 80.000 e R$ 150.000 anuais. Para quê? Para ser o cara que fica lembrando adultos formados de fazer o trabalho deles.
É o equivalente moderno do feitor de plantation, só que em vez de chicote, usa post-its coloridos e “facilitação”.
A Máquina de Fazer Dinheiro com Certificação
Quer entender como essa palhaçada se sustenta? Olha só os números da indústria de certificação:
- CSM (Certified ScrumMaster): Entre US$ 500 e US$ 2.495 por curso
- Renovação bienal: US$ 175 para níveis avançados
- Scrum Alliance: Faturamento anual estimado em dezenas de milhões
É uma máquina perfeita: cria-se um problema (equipes “desorganizadas”), inventa-se uma solução (Scrum Master), monetiza-se a solução (certificações caras), e depois se cobra para manter a solução funcionando (renovações).
O mais genial? Convenceram as empresas de que precisam pagar R$ 150.000 anuais para alguém que basicamente faz o trabalho que qualquer líder técnico competente faria de graça.
O Estereótipo Faria Lima em Ação
Você conhece o tipo. Polo Lacoste, calça chino, Jordan no pé, Apple Watch no pulso, MacBook debaixo do braço. Fala “guys” a cada três palavras, usa “super” como advérbio universal, e tem aquele sorriso de quem descobriu como ganhar dinheiro sem produzir valor.
É o cara que chegou na tecnologia pela porta dos fundos. Não sabe programar, não entende arquitetura, não consegue debuggar nem um “Hello World”, mas virou especialista em “facilitar” o trabalho de quem realmente entende.
Ele não resolve problemas técnicos. Ele “facilita” a resolução. Não toma decisões difíceis. Ele “facilita” o processo decisório. Não produz software. Ele “facilita” a produção.
É o parasita perfeito: se alimenta do trabalho alheio enquanto convence todo mundo de que é essencial para o ecossistema.
A Daily: Interrogatório Público Disfarçado de Reunião
A daily standup é o momento de glória do Scrum Master. É quando ele pode exercer seu poder de microgerenciamento disfarçado de “facilitação”.
“E aí, João, qual foi seu impedimento ontem?”
João está há 15 anos programando, já resolveu problemas que fariam o Scrum Master chorar, mas tem que explicar para um cara de tênis de R$ 1.500 por que levou 3 horas para implementar uma feature complexa.
“Pessoal, vamos manter o foco nas três perguntas!”
As três perguntas que transformaram desenvolvedores seniores em crianças de jardim de infância relatando o que fizeram ontem para a tia.
O mais irônico? Estudos mostram que 21% dos Scrum Masters geram impacto negativo nos projetos. Ou seja, 1 em cada 5 está ativamente atrapalhando o trabalho que deveria estar “facilitando”.
O Jira: A Ferramenta de Controle Supremo
Se a daily é o interrogatório, o Jira é a prisão. E o Scrum Master é o carcereiro-chefe.
Ele vive no Jira. Respira Jira. Sonha com burndown charts e velocity metrics. Conhece cada campo customizado, cada workflow, cada relatório que pode ser gerado para mostrar como a equipe está “performando”.
“Pessoal, vocês não estão atualizando as horas no Jira!”
“Gente, precisamos melhorar nossa estimativa de story points!”
“Galera, o burndown chart não está refletindo nossa realidade!”
Enquanto isso, os desenvolvedores estão tentando entregar software funcional, mas têm que parar a cada 30 minutos para atualizar o status de uma tarefa que já estava óbvia para qualquer um com dois neurônios funcionando.
O Scrum Master transformou o Jira de ferramenta de organização em instrumento de vigilância. Cada clique é monitorado, cada hora é contabilizada, cada movimento é rastreado.
É o panóptico digital perfeito.
A Falácia da “Facilitação”
A palavra favorita do Scrum Master é “facilitar”. Ele não gerencia, ele “facilita”. Não controla, ele “facilita”. Não atrapalha, ele “facilita”.
É o eufemismo perfeito para disfarçar microgerenciamento como serviço.
“Vou facilitar essa discussão.”
Tradução: Vou interromper vocês a cada 2 minutos com perguntas óbvias e forçar um consenso artificial.
“Vou facilitar a remoção desse impedimento.”
Tradução: Vou criar 3 reuniões para discutir um problema que vocês resolveriam em 10 minutos se eu não existisse.
“Vou facilitar a retrospectiva.”
Tradução: Vou forçar vocês a fingir que estão aprendendo algo novo sobre problemas que já conhecem há meses.
A “facilitação” virou a desculpa perfeita para justificar a existência de alguém que não produz nada tangível.
O Custo Real do Capataz
Vamos fazer as contas. Um Scrum Master ganhando R$ 150.000 anuais, mais encargos, custa cerca de R$ 200.000 para a empresa.
Com esse dinheiro, você poderia:
- Contratar um desenvolvedor pleno adicional
- Investir em ferramentas que realmente aumentam produtividade
- Pagar cursos e certificações técnicas para a equipe inteira
- Comprar hardware melhor para todos os desenvolvedores
Em vez disso, você está pagando para alguém ficar perguntando se todo mundo atualizou o Jira.
É o investimento com menor ROI da história da tecnologia.
A Resistência Silenciosa
Aqui está o que nenhum Scrum Master quer admitir: os melhores desenvolvedores os odeiam.
Não abertamente, claro. Ninguém quer ser marcado como “não colaborativo” ou “resistente a mudanças”. Mas a resistência está lá, silenciosa e constante.
É o desenvolvedor que “esquece” de atualizar o Jira. É a equipe que resolve problemas nos corredores, longe das “facilitações”. É o tech lead que toma decisões técnicas sem consultar o “facilitador”. É o time que funciona melhor quando o Scrum Master está de férias.
Os desenvolvedores aprenderam a trabalhar apesar do Scrum Master, não por causa dele.
O Fim da Farsa
A verdade é que equipes maduras não precisam de babá. Desenvolvedores seniores sabem se organizar, priorizar tarefas, e resolver impedimentos. Eles fizeram isso por décadas antes do Scrum Master existir.
O que eles precisam é de:
- Objetivos claros
- Recursos adequados
- Autonomia para tomar decisões técnicas
- Proteção contra interferência desnecessária
Nada disso requer um cara de tênis caro com certificação de US$ 2.000.
A indústria está começando a perceber. Empresas maduras estão eliminando o cargo ou transformando-o em algo mais útil. O mercado está se saturando de “facilitadores” que ninguém realmente quer facilitar.
A Hora da Verdade
Se você é Scrum Master e chegou até aqui, provavelmente está puto. Ótimo. Significa que ainda tem alguma consciência.
Agora responde honestamente: qual foi a última vez que você realmente resolveu um problema técnico? Quando foi que sua “facilitação” resultou em código melhor, arquitetura mais sólida, ou produto mais robusto?
Se a resposta é “nunca”, talvez seja hora de repensar sua carreira.
Se você é desenvolvedor e se identificou com tudo isso, saiba que não está sozinho. A resistência está crescendo. A farsa está sendo exposta.
E se você é gestor pagando R$ 150.000 anuais para alguém ficar perguntando sobre impedimentos, talvez seja hora de questionar se esse dinheiro não seria melhor investido em quem realmente produz valor.
O capataz de tênis e Jira teve sua época. Agora é hora de voltar ao que realmente importa: construir software que funciona, com pessoas que sabem o que estão fazendo.
Sem facilitação. Sem cerimônias. Sem bullshit.
Só trabalho de verdade.
Este artigo faz parte da série O Ilusionismo Ágil - uma análise brutal sobre como o Agile se tornou o maior obstáculo à inovação tecnológica. Leia os outros artigos da série:
- O Manifesto Ágil: Como Caras Bem Intencionados Viraram Escudo Corporativo
- O Teatro dos Sprints: Ritual, Controle e Burnout com Cheiro de Post-it
- Como o Agile Condicionou uma Geração a Obedecer Sorrindo
- Falsa Autonomia no Agile: Por Que Equipes Autônomas São Microgerenciadas
- Sprint Planning: A Ilusão de Escolha
- O Custo Psicológico da Entrega Contínua
- Por que o Agile Só Sobrevive em TI (e Mesmo Assim Fracassa)
- Por Que Hackers Rejeitam Agile: A Rebelião Técnica na Indústria de Software
E se você quer o manual completo da resistência, baixe Agile: A Mentira da Indústria de Software. É hora de parar de fingir que essa palhaçada funciona.
A liberdade tolerada não é liberdade.
É controle com UX bonito.
GhostInit0x continua transmitindo.